quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Eu sinto tanto a sua falta.


Bem, o que eu posso pensar acerca de uma pessoa que eu amo demais, mas que a dez anos não está mais presente? A minha vovó, que eu nem pude aproveitar por muito tempo, que me amava demais, que faria tudo por mim, que cuidava de mim, que me dava colo. A minha vovó.
Nossa, vó, você não sabe o quanto eu sinto a sua falta.
Às vezes eu me pego imaginando como seria se você estivesse aqui ainda... Pensando no que faria quando eu fiz quinze anos, pensando se sentiria orgulho de mim, se conversaria por tanto tempo comigo, como antes... Se me amaria.
Não parece justo que minhas irmãs tenham tido tão mais tempo com você do que eu. Parece errado. As lembranças que eu tenho, com o passar do tempo ficam cada vez mais difusas, parecem irreais... Eu sinto falta do seu colo, do seu riso, da sua preocupação conosco, do seu coração bom, da sua compreensão... Sinto falta de quando cozinhava pra mim, e passava a mão na minha cabeça. De quando cuidava do meu cabelo, e quando brincávamos com o Tiger. Até do Tiger eu sinto falta... Ele era meio bravo, eu lembro. Mas mesmo assim eu o adorava.
Sinto falta de coisas que não aconteceram também, como você na minha festa de seis anos, fazia tão poucos meses que tinha nos deixado... Agora, me vem à cabeça, a lembrança de você no hospital, e eu mostrando como tinha conseguido cortar o dedo no ventilador, e eu não consigo sequer lembrar do que você me falou naquele dia. Você não estava aqui quando eu fui pra escola pela primeira vez, não estava quando eu fazia as apresentaçõezinhas na escola, não estava no dia das vovós, eu não podia lhe contar sobre a escola, nem mostrar meus desenhos, ou sobre como o novo programinha na tv era legal. Você não esteve quando as coisas começaram a ficar difíceis na escola, quando meus amigos vinham aqui em casa, eu não podia te apresentar pra eles. Todos reclamavam das avós chatas, eu sentia a falta de você. Você não esteve quando eu viajei pela primeira vez com a escola, você não ficou esperando até o ônibus sair, pra abanar pra mim. Você não estava mais aqui pra me dar colo quando eu chorava, ou pra dizer que ia ficar tudo bem.
Não pôde me abraçar quando eu fiz quinze anos, e dizer que eu era seu orgulho. A Claudia disse que você teria orgulho de mim, queria ouvir isso, vindo de você, enquanto me abraçava.
Queria que você conhecesse o Ariel, e dissesse pra ele cuidar de mim, porque você não permitiria que me machucassem. Você veria o quanto eu o amo, e o amaria também. Eu sei disso. Queria que você estivesse aqui, pra cuidar de mim. Tenho certeza que, quando todos me virassem as costas, você estaria aqui, pronta pra me apoiar, me deixar chorar no seu colo, passar a mão no meu cabelo e dizer que 'tudo vai ficar bem'.
Ai vó, eu queria tanto ter lembranças mais nítidas... As manas lembram de muitas coisas, de maneiras exatas. Enquanto eu, eu só tinha cinco anos, e nem entendi direito o que aconteceu. Quando a mamãe perguntou se eu queria lhe ver naquela manhã, não pensei que você nunca mais fosse voltar. Não pensei que seria um adeus.
Poxa, você me faz tanta falta... Agora, eu olho pra mamãe brincando com a Natália e tenho inveja dela, porque ela tem o que eu queria ter até hoje: vovó.
Eu sei que você está bem agora, vovó. Que isso foi melhor do que ficar mal aqui, mais no hospital do que em casa. Mas eu não posso deixar de sentir a sua falta. Como quando somos crianças, e pensamos que, quem nos deixa, nos deixa pra morar no céu, com o papai do céu, ou vira uma estrelinha. Eu sei que você está cuidando de mim, sei que ainda me ama. Sei que está bem, e é isso que importa.
Mas, não consigo parar de pensar no tempo precioso que perdi, sem estar com você. Na minha mente de criança, você nunca me deixaria, vovó. Me perdoe por nunca ter passado tempo suficiente com você. Eu não sei se consigo me perdoar por isso. Não me perdoou por não lembrar de ao menos um dos versos que me ensinou, não consigo lembrar do som da sua voz, não me perdoou por não ter sido uma boa neta...
Mas saiba, vó, que eu nunca, nunca esquecerei de você, e do quanto eu te amo, do quanto você foi importante pra mim. Eu não quero pensar em quando você se foi, quero pensar no tempo que passamos juntas.
Eu te amo, vovó. Sempre vou te amar, mesmo que você não esteja mais presente.
E, quer saber qual vai ser o nome da minha filhinha, daqui uns dez anos? Manoela.É por você, vovó.
Amo você.


Nenhum comentário:

Postar um comentário